segunda-feira, 18 de março de 2013

Cuba: E a gente vai levando...

Não é para turistas! Por isso não provoque, é cor de... choque!


O transporte em Cuba não chega a ser caótico. Creio que não o seja porque o ritmo, mesmo nas grandes cidades como Havana e Santiago de Cuba, é mais lento que o normal do mundo ocidental e, por que não dizer, capitalista.

Tive diversas experiências engraçadas e curiosas com algo muito comum em Cuba: caronas! Vale um texto especialmente dedicado a isso. Virá.

É bem verdade que os cubanos encontram enormes dificuldades para se transportar tanto dentro das cidades como de um centro urbano para locais mais distantes. Quando é de uma cidade para outra então, as opções que eles têm são poucas e... difíceis. Há uma linha de trem que corta a ilha de cabo a rabo, mas os horários são irregulares e, segundo consta, sempre apresentam problemas que atrasam ainda mais a chegada ao seu destino. Nos registros abaixo, vemos o trem cruzando a estrada na saída de Cienfuegos. Na segunda foto tem a galera corredo para pegar o trem.

"Pois o trem está chegando, tá chegando na estação.
É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão!"



Uma alternativa que eles encontram são os caminhões convertidos em uma espécie de ônibus. A rigor são iguais ao nosso "pau-de-arara". Lá são chamados de Guagua (eles pronunciam Uáua.)  e não conseguem atender satisfatoriamente a demanda, mas circulam dentro e fora das cidades. Vi muitos deles em Havana.

Guagua pegando passageiros em uma estrada próxima a Holguín
Típico Gugua em Santiago de Cuba

Acabamos encontrando sempre algumas aglomerações esperando o transporte, nos pontos dos Guaguas ou simplesmente nos entroncamentos das estradas, onde o lance é pegar carona.

Guagua saindo de um ponto em Santiago de Cuba

Nas cidades maiores há linhas de ônibus regulares com cara de ônibus mesmo. Em Santiago de Cuba cruzei com uns grandões, do tipo articulado, que são chamados aqui no Rio de "papa-fila". Um taxista me contou que havia uma empresa que fabricava ônibus em Cuba que tinha duas ramificações, um brasileira e outra tcheco (da antiga Tchecoslováquia). O braço brasileiro é(ra) a Marcopolo. O tcheco fechou após a queda do bloco socialista. Um detalhe: ele era engenheiro do lado que fechou. Ganhou um táxi (Peugeot novo) do governo. Em outra oportunidade conto a história dele que vale a pena.



Como quem não tem cão, caça com gato, o lance deles é improvisar e seguir em frente. Isso é muito bacana. Não ficam reclamando de chatos. Não gostam mas encaram com um realista "é o que temos para hoje". Saindo do paraíso chamado Cayo Coco em direção a cidade de Morón, pude registrar mais uma das formas que os cubanos encontraram para driblar as dificuldades: a carona em qualquer tipo de coisa que ande mais que suas pernas.

Se tá indo pra lá, é para lá que eu vou!

Além dos táxis normais de maioria da marca Lada, há os táxis especiais, geralmente brancos, que circulam principalmente em Havana. Porém, estes não são para os cubanos, pois suas tarifas são mais caras e são os únicos que têm autorização para pegar passageiros exatamente na porta dos hotéis. Certa feita um taxista pediu desculpas e perguntou se eu não poderia saltar uns 20 metros antes da porta do meu hotel, o Riviera. Respondi que não havia problema e ele justificou [o pedido] dizendo que "implicam" se ele ficar parando em frente. Não vi lógica nisso... e ele foi o único que realmente fez isso. Outros taxistas disseram que era verdade mas que saltar rápido não traz grandes problemas. Mas embarcar na porta só mesmo os especiais que são de marcas e modelos mais novos, como Peugeot ou os chineses e coreanos que já infestam as ruas de Havana.

Típico táxi comum em Cuba. Estes em um ponto na frente do Capitólio.
A maioria são pretos com amarelo, mas estes são da mesma categoria.
Ainda falando em táxi, existe uma modalidade em Cuba que são, na verdade, lotadas autorizadas pelo governo. São sempre carrões das décadas de 1950 e 1960 e invariavelmente estão cheio de gente. São baratos e têm rotas mais ou menos pré-definidas. É possível viajar sozinho combinando um valor determinado com o motorista. Geralmente carros muito bonitos e conservados ficam próximos aos hotéis esperando que turistas os procurem para "dar uma volta" numa belezura daquelas. Abaixo temos um exemplo.


Estes em frente ao Hotel Parque Central, em Havana.
Já vi este vermelho em várias fotos espalhadas na internet,
inclusive no meu texto anterior :-)



Abaixo vemos alguns exemplos destes táxis-lotação, todos em Havana. Aqui no Brasil ouvi dizer que se chamam boteros... lá não ouvi falar neste nome. Notem que na quarta foto é uma Land Rover antiga!






Voltando para o mundo das coisas curiosas, as motos com esta "garupa" (esqueci o nome disso!!!) são figurinhas fáceis nas estradas, principalmente no interior. São todas de marcas da Alemanha Oriental, como a MZ. Na primeira foto abaixo, vemos o casal que estava indo na estrada que liga a cidade de Cienfuegos a Trinidad, antes da carretera central. Na segunda, este "triciclo" foi flagrado passando na Plaza de la Revolución, em Havana, onde se vê um pedacinho do painel com a imagem do Che.



Na foto abaixo temos mais um exemplo do estilo cubano de ir. Este Lada Laika carregava nada mais nada menos do que oito adultos e uma criança. Neste registro não dá ver todos os passageiros, mas podem acreditar em mim: eles estavam lá!


Coração de mãe na saída de Cienfuegos

Não só de pessoas é o transporte. Na próxima foto vemos um Lada Laika "tropeiro" circulando na Carretera Central próximo a Camagüey. Ficou um pouco tremida a foto, mas vale o registro.

"Agora colega veja
Como carregado eu vinha
Trazia minha nega
E também minha filhinha"

"Meu violão não pesa muito/ Carrega tantas canções/
Fico pensando se um amor dos grandes/ Pode habitar pequenos corações"

Mesmo a coisa sendo um pouco complicada e diferente do que temos por aqui, a verdade é que, da maneira deles, funciona.






domingo, 17 de março de 2013

Cuba - carros em uma máquina não só do tempo, como do espaço!

Em cuba este Chevrolet não ficou para trás!
Quando falamos de carros em Cuba a imagem imediata a que nos remete são os grandes "Cadillac´s" americanos da década de 1940 e 1950. É verdade que as ruas da "Ilha de Fidel" (expressão mais do que manjada para que o redator não tenha de repetir o nome do país) estão repletas destas preciosidades do passado: Pontiac, Chevrolet, Ford, Plymouth, Dodge... e só este fato já é o suficiente para que os que curtem carros antigos fiquem fascinados ao andar em qualquer parte do país.

Mas nem tudo era gigante naquela época. O Austin abaixo é uma prova rara e conservada.
Austin estacionado em Trinidad


"Mocoví" parado no posto de verificação
na entrada de Cayo Coco
Além dos automóveis de décadas próximas da revolução de 1959, também podemos encontrar nas ruas alguns carros russos da Lada, muito conhecida no Brasil por três modelos: Niva, Laika e Samara. Mas há também marcas soviéticas que não apareceram por aqui, como o москвичи(Mosckovich, que lá se pronuncia "mokoví"), muitos servindo como táxis e carros particulares.





москвичи nas ruas de Santiago de Cuba











Outra marca soviética que encontramos por lá foi o Volga. Menos numerosos, mas não raros, são aparentemente carros apenas de particulares.

Um Volga paradão em Havana

Como já fui um proprietário de uma destas "maravilhas" da engenharia moderna, um Lada Niva 1995, estive bastante atento aos modelos da URSS, em especial os Nivas.

Niva saindo do estacionamento em Havana

É impressionante o estado de conservação dos carros. Sabendo-se que em um país que sofre com um sórdido embargo econômico imposto, desde a década de 1960, por parte da maior potência econômica e militar do planeta, os EUA, entende-se portanto que não há um mercado de peças minimamente condizente com o tamanho e origem da frota. Vê-los rodar pra lá e pra cá é uma façanha e tanto por parte dos já sabidos mestres das oficinas cubanas. Não é raro avistá-los pelas ruas do país com o capô aberto e/ou com sujeitos por debaixo, com peças espalhadas ao seu redor.

Nas fotos acima temos um Niva 5 portas (desconhecido dos brasileiros) abrindo o bico. A segunda foto traz algo interessante. Este Niva quebrou no meio de um cruzamento na saída da cidade de Cienfuegos. Em nossa lógica, fariam de tudo para retirar o carro do local e desobstruir a via Em cuba não! Um policial desviou o trânsito para o quarteirão vizinho até que o sujeito conserte o carro. A rigor, todos que passam por ali foram obrigados a ser solidários E vamos nós!

As adaptações não ficam restritas às peças de um Lada num Ford 57, ou um alternador FIAT em um Plymouth. Em Santiago de Cuba cruzamos com uma solução genial. Um Laika esticado... ou seria um Laika Limousine? Bem, você decide! Conversando com o proprietário de um destes singulares veículos, ele explicou que se utilizam dois carros para fazer a "colagem". A frente de um Laika e a traseira de outro. Este azul estava estacionado em frente do Balcón onde os revolucionários se dirigiram ao povo na tomada da cidade.


Como o título deste texto diz, a máquina também é do espaço. Ao rodar pelas ruas de Havana em um Cocotáxi (escreverei sobre este em outra oportunidade), me deparo com um som bastante conhecido: motor VW 1300 em um... Gurgel! Ao emparelhar com ele, o sujeito se vira e pergunta: quer comprar?


Ainda no espaço estranho, onde se misturam marcas, cores, modelos e países, é bastante comum encontrar Peugeot, Citröen, Fiat e várias outras montadoras conhecidas com modelos das décadas de 1970 a 1990.
FIAT Tipo 1.9 Diesel estacionado em Cayo Coco. Ao lado estava um Willman!
O passado e o presente andam lado a lado. Abaixo vemos os japoneses Suzuki da velha e da nova geração. Pela ordem, um Grand Vitara 3 portas (não conhecido no Brasil), um Vitara 3 portas (Sidekick canadense) e um Jimny Canvas (desconhecido no Brasil). Notem bem a grande figura humana no Suzukinho azul.

Mais um exemplo de choque de gerações. Um Audi conversível tinindo de novo e um Lada... não tão novo assim.
Final de tarde em Havana. Cuba e o socialismo de contraste.
Não poderia deixar de fora o carro que me transportou de um lado ao outro da ilha: um Seat Córdoba ano 2007 alugado por 9 dias.


Em outra oportunidade escreverei sobre o transporte em Cuba, que vale um capítulo a parte. Para os que gostam, deixo algumas imagens das relíquias americanas. Como verdadeiramente não sou um profundo conhecedor de carros novos ou antigos, algumas fotos eu não sei qual é o modelo correspondente. Quem quiser e puder ajudar...

Chevrolet. Ano: ?                             Chevrolet. Ano?


Chevrolet. Ano: ?                             Chevrolet. Ano?

Chevrolet. Ano: ?                             Ford. Ano?

Ford. Ano: ?                             Willman. Ano?

Dois Chevrolet. Ano: ?                       Modelo ?   . Ano?           

Willman. Ano: ?                                Willys. Ano?     

         Zephyr. Ano ?                              Playmouth. Ano ?      


      Modelo ?. Ano ?                              Willman 1957